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Léo Falcão Ligeiro (Léo Batista)


O FALCÃO DO SEMI-ÁRIDO

Sou um  Falcão micaelense,

Filho de uma princesa oestana,
Nasci na rama da jitirana
Do  Vento Norte ,  caçula irmão.
De Porta Alegre trago a adoção .            
Nas veias trago sangue Panati
De Ti, ó  Proboscídeo Pater
Herdei as  manhas Potiguara
Amar a gleba tosca rara
É a cara e sublim’ ação
Que trago dentro da alma.

Sou um Falcão do semi-árido
De pálida tez altiva e clara
Teimoso e perspicaz como arara,
Perseguidor avesso ao mal destino
Voar sempre como bicho peregrino
É o escrutínio abrupto necessário
Para se aprender a dever pouco e sofrer menos.

Sou  Falcão de garras em riste,
De uma alva e pura terra
Das serras, pradarias e  queimadas tristes,
Da seca ravina cavernosa,
De mal cheirosa elite pequenina
Que assoreia a consciência nobelina
De um sertão espoliado e empedernido

Sou um Falconídeo de tantas lembranças boas
Que voa nas asas de um tempo altaneiro
Onde o falcão ligeiro tinha abundância e fartura.
A doçura da jandaíra enchia as cabaças dos antigos
E os inimigos comuns eram tão poucos.
Naquele tempo o Apodi corria no seu leito
Do jeito que um curumim saltita na puberdade
Num sabe ?! Cheio de escaramuças e liberdade.
A Terra, nossa  Mãe se desmanchava em leite e mel
O dossel da mata era um verdadeiro templo natural.
A magia da dança e do canto ritual era oração comum
E qualquer um podia ver Deus no rio, nas plantas,
No Avô Céu,  nos produtos da terra, nas nossas anatomias
Todo dia enfim, era nosso dia.

Sou um Falcão, irmão  de tantos irmãos,
Da nação antiga de Potiguara e Cariri,
Guerreiros passivos que lutam no silêncio dos ideais,
Ancestrais revestidos de neologismo flexível e portável .
Afável é um futuro que se avizinha às  heranças,
Lanças, arcos ou bordunas, não mais serão as armas,
Desse milênio inusitado, mas neurônios conectados   e fortalecidos
Imbuídos pela promessa do retorno às origens
Pasmarão ante as impossibilidades de ferir sua própria miscigenação
Desconfiarão jamais, que os filhos da terra voltarão
Como filhos de suas próprias filhas e herdarão,
Uma herança que já se sabia  a quem pertencia por direito.


Sou, hoje, um Falcão solitário como o RN
Do meu abecedário  brejeiro e provinciano,
Nem lusitano, nem otário,
Nem cidadão, nem perdulário,
Sou o resquício de uma geração nativa,
Notívaga e adormecida em cada seca que se  inicia,
Ativa e viçosa em cada inverno que por vez molha
Cada folha da caatinga do sertão nordestino.

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